PARA ALGUMAS GERAÇÕES,
O FAMOSO CAMPO DAS “LARANJEIRAS BRAVAS”
O FAMOSO CAMPO DAS “LARANJEIRAS BRAVAS”
Como surge o campo da Rua de Olivença
No
início o Algés procurava afanosamente um local para que os seus jogadores
pudessem treinar e jogar com as melhores condições possíveis.
Tal
como já relatámos, diferentes espaços foram sendo experimentados, que
correspondiam a tentativas que nunca satisfizeram plenamente os dirigentes da
Secção de Basquetebol e da Direcção do clube.
Num
dado momento o Algés começa a estudar a possibilidade de usar um terreno da verbena
da feira de Algés (denominado Páteo da Alegria), por disponibilização dos
gerentes dessa mesma feira, terreno esse que estava situado muito perto do
rinque de hóquei em patins da Liga de Algés.
Em
1953, no relatório da Direcção, verifica-se que esta solução não está a
resolver o problema do campo do Basquetebol para o clube. Segundo este
documento:
“o espaço alugado na Feira
de Algés há 2 anos para fazer um campo de Basquetebol, ainda não chegou a ser
utilizado. Exigências colocadas pelos donos do terreno e imponderáveis que não
puderam ser ultrapassados, impediram a realização das obras. Tratava-se de um
processo a exigir grandes transformações, que só mereceria ser desencadeado com
a certeza de continuidade da utilização, o que até esse momento ainda não fora
conseguido”.
Finalmente esse requisito foi alcançado e o clube conseguiu o
alargamento do aluguer do terreno por mais 3,5 anos, através de negociações com
o proprietário Alfredo Simões Travassos. Estavam assim garantidas as condições
que antes impediam o investimento necessário.
Com tal segurança, foram
transferidas as tabelas que estavam colocadas no campo de Ténis e aplicadas no
novo terreno, que começou logo a ser usado com a realização de duas
iniciativas:
·
Um torneio inter-sócios, organização bastante
frequente nestes anos;
·
Um jogo com uma equipa de marinheiros
americanos de uma esquadra que visitou o Tejo (Rooks).
O campo não tem ainda todas as condições desejadas para se jogar
basquetebol, mas mesmo assim, os dirigentes do clube avançam para o arranjo
final do campo, fazendo a sua inauguração oficial no dia 17 de Junho de 1955,
com a denominação de campo Conde de Rio Maior (presidente do município de
Oeiras), sendo depois passado a ser denominado campo Guilherme Santos
(dirigente do Basquetebol do SAD)
A localização era excelente, muito próxima da sede do clube e servia
os interesses de todos.
Nos escritos que consultámos
e nas informações obtidas, o campo era identificado como estando situado
próximo da Rua Ernesto da Silva, por onde haveria uma entrada, mesmo que o
principal acesso fosse pela rua da Boa Vista (hoje rua de Olivença). Aquela
outra entrada veio a desaparecer, ficando o único portão para a entrada no
espaço do campo a estar localizado na rua de Olivença.
O Relatório de Contas de 1954
contém um capítulo sobre este recinto que diz o seguinte:
"Terreno da Rua Ernesto da
Silva e sua adaptação a campo de Basquetebol
A questão que foi colocada
pela Direção: encontrar uma solução de modo a que, com redução de custos, se
eliminasse a utilização (tal como até então se fazia) do campo da Liga de Algés
e encontrasse, por outro lado, uma solução para o terreno referido, aumentando
o prazo de arrendamento do mesmo para o adaptar a campo de Basquetebol e deixar
de usar o campo da liga.
A Secção de Basquetebol ,
consultada para este efeito, optou inequivocamente pelo novo recinto, desde que
garantido um prazo de utilização maior."
Problema maior que urgia resolver era o do piso, que não apresentava as condições satisfatórias para a prática.
Obtida a colaboração da
Câmara Municipal de Oeiras, a Direção decide colocar um betuminoso, com o
mínimo de encargos para o clube.
A obra foi dada por
concluída em finais de Novembro (1953), mas rapidamente se constata que por
“errada orientação do trabalho, este não ficou, desde logo, em condições de ser
utilizado “
Novas diligências (morosas e
complicadas) fazem com que a gerência desta Direção termine sem o campo poder
ser usado nas condições desejadas. A inconstância do tempo e as dificuldades de
novos atrasos, não permitem a retificação do trabalho
Os jogos provisoriamente são
feitos nos campos dos adversários durante este período, dado que a perspetiva
de conclusão das correcções é a de algumas semanas mais tarde
Pessoas e entidades citadas
no relatório, como tendo contribuído para a conclusão destes trabalhos:
·
Francisco Alves (na altura membro do Conselho
Geral);
·
Ribeiro da Costa (cedência de material e
eletrificação do recinto);
·
CRGE (Companhias reunidas Gás e Eletricidade)
que reduziu os custos da obra ao mínimo;
·
João António de Saldanha Oliveira e Sousa
(Presidente da Câmara de Oeiras)
Dados a retirar como
conclusão:
1.
O campo surge como solução na época 53/54;
2.
O campo tem o seu primeiro arranjo em 1954;
3.
O campo é concluído já na época de 54/55
sendo inaugurado oficialmente em junho de 1955.
No
entanto, a preocupação para dar as melhores condições ao campo de jogos não
abandonou os dirigentes da secção com a sua entrada em funcionamento.
A noticia seguinte, relativa
ao aniversário de junho de 1956, refere a existência de novas melhorias no
campo do Algés inauguradas nas festividades deste momento.
(Mundo Desportivo, 25 junho
1956)
O
esforço para melhorar as condições oferecidas pelo campo Guilherme santos
continuaram. Durante a época 57/58 o recinto sofreu novos melhoramentos ficando
equiparado aos melhores campos de Lisboa. Durante as obras o Algés teve de
jogar nos campos dos adversários ou em clubes amigos.
A
utilização do campo Guilherme Santos continuava sem novidades, prolongando-se
sucessivamente a concessão para a respectiva utilização. De acordo com o
relatório da Direcção do SAD de 1961 (em Boletim SAD, 1961), afirmava-se no
capítulo relativo ao campo de jogos:
“Continuámos
a utilizar, para jogos e treinos, o campo Guilherme Santos, já há muito
instalado num terreno que o SAD tem “arrendado” junto ao rink de patinagem da
Liga dos Melhoramentos e Recreio de Algés.
Beneficiaram-se
as cabinas dos jogadores e dos árbitros, principalmente com a colocação de
duches de água quente e fria, e foram pedidos orçamentos para obras de
beneficiação do piso do campo, que se encontra bastante degradado”. Esta
reparação, que consideramos urgente, não poderá fazer-se agora, segundo a
opinião dos construtores consultados, havendo que aguardar-se que termine o
período das chuvas.”
Neste
mesmo documento encontramos uma afirmação muito curiosa, mas que nunca chegou a
ser concretizada, nem mesmo ventilada nos anos seguintes:
“Actualmente,
pensa-se em transformar em plano inclinado os sectores sul e poente destinados
ao público, de modo a obter-se melhor visibilidade e uma maior lotação”.
Só em 62/63 são feitas novas
obras e introduzidos alguns melhoramentos: um novo alcatroamento do piso, a
construção da cabina em tijolo para Cronometristas e Marcadores (antes em
madeira e mais rudimentar) e o arranjo do muro que circunda o campo e mais uma
melhoria das cabinas.
Nas entrevistas feitas a
antigos jogadores surgem algumas diferenças nestas datas, uma vez que, segundo
eles, no que se refere aos duches de água quente e fria, tal situação já
existia no final da década de 50, pois o Algés efectuava os seus jogos do
campeonato nacional neste campo e as equipas já podiam aceder à água quente.
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ASPECTOS PARTICULARES DA VIDA DO CAMPO
DA RUA DE OLIVENÇA E ALGUMAS FUNÇÕES QUE DESEMPENHAVA
A
importância do campo Guilherme Santos para o desenvolvimento do Basquetebol do
Algés e o seu significado na história da modalidade do clube vai, porém, muito
para além do conjunto de dados que acabámos de referir.
A
sua função para os jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos é muito mais
abrangente, ultrapassando o simples facto, já de sim importante, sem dúvida, de
ser um local de realização de treinos e jogos.
Vejamos
quais as características essenciais desse lugar de relevo que lhe atribuímos:
·
O “campo das laranjeiras”, forma popular como
era identificado, era o local de encontro das pessoas do Basquete do SAD, rivalizando
com a função da piscina na sua relação com os sócios. O fim do dia e os fins de
semana era um local de passagem quase obrigatória dos jogadores e treinadores
do clube. Sabia-se que haveria sempre uma bola a saltar, um jogador a brincar,
um amigo para se conversar sobre o basquetebol e o Algés. Este ponto de
encontro estava “aberto” normalmente entre as 18 e as 3~23 horas dos dias da
semana.
·
Era um local de encontro dos jogadores, antes
do treino e depois do treino, quando regressavam das actividades escolares
diárias e onde se podia sempre fazer um “renhido” (jogo de 1x1, 2x2 ou 3x3 fora
dos enquadramentos habituais das equipas e do género), ou lançar umas bolas ao
cesto (enquanto o treino não começava, ou mesmo que o treino estivesse a
decorrer, recorrendo às tabelas laterais, ou quando os exercícios eram feitos
só de um lado)
·
O seu relativo isolamento, longe da rua e da
passagem dos carros, mas com acesso fácil, dava-lhe uma protecção e segurança
naturais. Aquele corredor de cerca de 20 metros em terra, que vinha da rua, e
começava no portão que o empregado abria todas as tardes, desembocava num
espaço amplo, no meio de prédios, onde tudo acontecia, longe do bulício da rua
onde as pessoas e os carros passavam, que era óptimo para se ver o treino e
conversar sobre os feitos dos jogadores;
·
Era um local que permitia a prática livre do
basquetebol, sempre que não havia treinos. Normalmente o campo abria às 16
horas e os treinos só começavam às 18h. Nestas duas horas de intervalo, muitos
jovens vinham para o campo, pediam uma bola ao empregado e ficavam a jogar
sozinhos ou com outros companheiros, até que a actividade organizada começasse.
Nos anos 50 (segundo dados fornecidos pelos próprios intervenientes), os
jogadores seniores pediam a chave do campo e podiam “lançar bolas ao cesto” e
jogar, sozinhos ou em pequenos grupos. Um dos jogos mais populares desta fase
era o chamado “evitar a falta” em que os intervenientes fugiam ao contacto
procurado pelos adversários, realizando passes para os companheiros quando
sujeitos a maior pressão.
·
Neste tema um papel de grande relevo era
desempenhado pelos empregados do campo, figuras marcantes na vida do campo, com
aspectos que nos atrevemos a definir como sendo de componente pedagógica, na
forma como se relacionavam com os rapazes e as raparigas que chegavam e queriam
jogar, mesmo com a sua “roupa de andar na rua” (sem estarem equipados).
Queremos por isso enaltecer o papel desempenhado pelo Joaquim Oliveira, Zé
Oliveira, Guedes, Mário Alberto, Martinho, Américo, Albertino que, para além do
tratamento dos equipamentos, controlavam a vida do campo emprestando as bolas
(ou não o fazendo) em função do comportamento dos rapazes e das raparigas,
nesse dia ou nos dias anteriores.
·
O campo tinha duas tabelas principais e depois
duas tabelas laterais à altura normal de 3, 05 m (desconhecemos a data de
colocação destas tabelas). Mais tarde foram ainda colocadas 4 tabelas para
minibasquete. Para além disso, o espaço à volta do campo podia ser (e era,
muitas vezes) aproveitado para treino físico, como corrida e circuitos de
força, maioritariamente com material rudimentar que, muitas vezes, os
empregados conseguiam fabricar, a pedido dos próprios treinadores;
·
Durante muitos anos a zona dos vestiários
tinha um espaço reservado ao empregado onde se encontravam os equipamentos e o
material de treino, como as bolas e outros acessórios (bolas medicinais
rudimentares, lastros para os pés, coletes de pesos, garrafões e garrafas de
areia para o treino da força).
·
Durante alguns anos (anos 60 e 70) havia
equipamento para o treino (calções, camisolas, meias e botas) diariamente
lavado e distribuído aos jogadores inscritos pelo empregado encarregue do campo.
·
O piso era de alcatrão, aspro, rugoso e
difícil (uma queda era garantia de ferimentos às vezes profundos), mas que
tinha grande vantagem nos dias de chuva, pois permitia que os treinos
decorressem mesmo com água;
·
A partir dos anos 50 (data a confirmar) o campo
era iluminado com boas condições para os treinos e jogos ;
·
Havia dois vestiários para duas equipas e um
terceiro, mais pequeno, para os árbitros, todos com duches. Durante o período
de treinos as duas cabinas grandes funcionavam como vestiário masculino e
feminino;
·
Na década de setenta, procurando copiar o que
se via nos pavilhões e na TV e alindar aquele espaço, decidiram os treinadores
e os jogadores pintar de verde as áreas restritivas e o circulo central, o que
veio a demonstrar não ter sido uma grande medida pois a tinta escolhida naquele
voluntarismo típico do trabalho daqueles anos, estava longe de ser a adequada,
tento proporcionado valentes escorregadelas na fase inicial do seu uso.
·
Depois do período inicial mais descampado, a
construção de novos edifícios (prédios e vivendas) foi sendo feita, criando uma
situação que, nos anos 70, fazia com que o campo estivesse rodeado de prédios
de habitação em 3 dos seus limites, ficando o outro lado na ligação com o
recinto da Liga de Algés. Este facto dava-lhe características próprias e permitia
a existência de histórias engraçadas de comunicação dos jogadores para as suas
casas (os que viviam nesses prédios), mesmo com o treino a decorrer!
·
Existiam pelo menos duas árvores de fruto: uma
de laranjas ácidas (que deu o nome popular ao campo e que, ao que nos contaram,
em alguns períodos permitia fazer chá para os jogadores beberem ao intervalo) e
outra de romãs
·
Na parte final da sua utilização, o campo
Guilerme Santos era apenas local de treino, sem se poderem usar as cabinas e os
duches já degradados, sem haver mais empregado e equipamentos para os jogadores
e em que as próprias bolas eram transportadas pelos treinadores da sede para o
campo e do campo para a sede, sendo ainda eles que abriam e fechavam o portão
de entrada. Foram momentos de degradação progressiva, em que se antevia a
aproximação do dia em que tudo iria acabar.
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No início dos anos 70, a
Taça de Portugal permitia que os clubes jogassem nos seus campos os jogos das
eliminatórias que lhes calhassem em sorteio.
No caso do Algés, tendo sido
sorteado o jogo Algés- Sporting, a Secção, ouvidos os jogadores, decidiu
realizar esse jogo no campo Guilherme Santos, o que constituiu um momento de
grande entusiasmo e de prova de vida do recinto
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Os relatórios anuais da
Direcção dos anos 90 referem uma progressiva degradação das instalações do
campo da Rua de Olivença. Por exemplo, em 1997 lemos a seguinte frase na parte
do texto da responsabilidade da Secção de Basquetebol:
“o
campo da rua de Olivença, tão querido de todos nós, continua com o piso
estragado, apesar das repetidas promessas para o seu arranjo”
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(revista SAD, Setembro de
1997)
Segundo
o relatório da Secção elaborado em 2003, é referido que no final da época
2002/03 o campo da Rua de Olivença deixou de funcionar
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