quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Miguel Barroca

(Jogador das equipas do Algés - século XXI)

Falar do Sport Algés e Dafundo é ir muito mais longe do que apenas comentar jogos e resultados, jogadas ou cestos inesquecíveis. É falar de valores, de momentos partilhados em família e de pessoas fantásticas.
E começo pelas pessoas, destacando três que se enquadram perfeitamente naquilo que é o Algés.
Em 1990 quando comecei a jogar basket no Algés, o meu treinador era o João Moura. O João Moura não era certamente o melhor treinador do mundo, nem era concerteza o pior, mas uma coisa ele tinha que o tornava especial: dedicação.
A dedicação aos seus miúdos, treino após treino, jogo após jogo. A dedicação que tinha ao clube não só como treinador de minibasket, o nosso treinador, mas também enquanto jogador. Eu, com 6 anos, olhava para a sua garra a treinar e a jogar e queria ser igual a ele.
Outro dos treinadores que me marcou, e muito, foi o Filipe Alberto.
O Filipe era uma pessoa mais fria, dura, que exigia de nós aquilo que um miúdo como eu, na altura, por vezes achava demais. Treinos na Rua da Olivença, por exemplo, em que os joelhos esfolados das quedas naquele piso de alcatrão não serviam de desculpa para parar o treino. Ou os horários que eram para cumprir ao segundo. A pontualidade é das regras que ainda hoje faço questão de praticar na minha vida, mas na altura, quando dependia das boleias da minha mãe, confesso que tive que mentir algumas vezes para cumprir: “mãe, tenho que estar às 9h no Algés”, quando na verdade era só às 9h30.
Tudo isso ajudou-me a ser responsável com os meus compromissos, a não me deixar abater por percalços, e a acreditar que ser forte é o caminho para o sucesso.
Mais tarde tive a oportunidade de trabalhar com a pessoa que mais marcou o meu crescimento, enquanto homem, o Fernando Jóia. Enquanto homem, sim, e também enquanto jogador.
O Jóia conseguiu agarrar num grupo de míudos e ajudou-nos a crescer para nos tornarmos grandes homens nas mais variadas áreas. A visão dele sempre foi a longo prazo. Ele tinha a capacidade de nos tornar competitivos dentro de campo, naquele momento, mas olhando sempre para aquilo que considerava prioritário: o nosso futuro.
Foi ainda com o Jóia como treinador que vivi um dos melhores momentos da minha vida, a conquista do Campeonato Nacional de Juníores B, que na altura correspondia ao atual escalão de sub-18.
Nunca terei palavras para lhe agradecer o suficiente por tudo o que ele fez por mim, pelos anos dedicados à minha formação pessoal e desportiva.
De facto o meu percurso no Algés, ficou marcado pelas pessoas.
Mas pessoas fantásticas não se ficaram pelos treinadores e, por isso, volto ao primeiro parágrafo para agora falar dos momentos partilhados em família no Sport Algés e Dafundo.
O ambiente que se vive no Algés é único. Há uma proximidade muito grande entre pais e filhos, treinadores com os seus atletas e os seus pais, entre os atletas de diferentes escalões, masculinos e femininos, e até entre atletas de diferentes modalidades (não me digam que não é um privilégio treinar ao lado do Nuno Delgado, por exemplo, todos os dias).
Os meus colegas que foram subindo de escalão comigo ao longo dos anos são sem dúvida meus irmãos para a vida. Os momentos vividos ao lado deles iam além do basket. Havia cinema, praia, noites, festas de anos, tudo em família, a família do Algés.
E tal como os jogadores da minha geração, também os jogadores da equipa sénior que a certa altura receberam de braços abertos um miúdo que sobre o jogo dos adultos nada sabia, foram minha família. A transição para sénior foi um processo fácil por isso mesmo: família. Os mais velhos receberam-me como um irmão mais novo, sempre dispostos a ajudar, sempre prontos a ralhar, mas sempre, sempre, ao meu lado.
Como irmãos mais velhos, tal como tinha acontecido com todos os meus treinadores, passaram-me sempre os valores certos, o que me faz regressar novamente ao primeiro parágrafo.
Falar de valores é certamente falar daquilo que mais importante o Algés me deu.
Respeito, determinação, orgulho, amor, amizade, companheirismo, dedicação, compromisso, atitude… a lista de valores que me foram incutidos no clube é interminável e considero-me melhor pessoa por ter conseguido assimilar estes ensinamentos e aplicálos na minha vida pessoal, profissional e desportiva.
E aí parece-me estar a grande virtude deste clube. É um clube de formação pessoal e desportiva, de transmissão de valores essenciais para a vida de cada um dos jovens atletas que tem o privilégio de representar o Algés.
Como qualquer clube, o Algés também tem as suas limitações. Há pouco espaço para todas as equipas terem as horas de treino ideais. Há a dependência dos transportes dos pais que semana após semana têm que levar os seus filhos e os colegas para os jogos.

Não há bolas novas a toda a hora. Os equipamentos não são renovados todos os anos. Por vezes quando chove muito cai alguma água dentro do pavilhão… Eu escrevi limitações? Enganei-me!
No Algés não lamentamos aquilo que não temos, mas damos valor ao que temos. Se está a chover partilhamos o campo com outra equipa para treinar. Ou subimos escadas e bancadas para melhorar a condição física. Se os carros estão cheios a caminho do jogo, alguém se aperta porque há sempre espaço para mais um. As bolas velhas são tão redondas como as novas, e se por acaso estiverem vazias e não saltarem, dão para treinar o lançamento. Os equipamentos passam de geração em geração e é com orgulho que vestimos a camisola que no ano anterior pertenceu a outro jogador do Algés! Está a chover dentro do pavilhão? Um pino em cima da poça resolve essa questão.
No Algés formam-se campeões, e os campeões não arranjam desculpas, mas sim soluções. Unem-se e são mais fortes. Lutam juntos pelos seus objetivos.

VVV SAD ALGÉS ALGÉS ALGÉS

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