Falar do Sport Algés e Dafundo é ir muito mais longe do que apenas comentar jogos e resultados, jogadas ou cestos inesquecíveis. É falar de valores, de momentos partilhados em família e de pessoas fantásticas.
E começo pelas pessoas, destacando três que se enquadram
perfeitamente naquilo que é o Algés.
Em 1990 quando comecei a jogar basket no Algés, o meu
treinador era o João Moura. O João Moura não era certamente o melhor treinador
do mundo, nem era concerteza o pior, mas uma coisa ele tinha que o tornava
especial: dedicação.
A dedicação aos seus miúdos, treino após treino, jogo após
jogo. A dedicação que tinha ao clube não só como treinador de minibasket, o
nosso treinador, mas também enquanto jogador. Eu, com 6 anos, olhava para a sua
garra a treinar e a jogar e queria ser igual a ele.
Outro dos treinadores que me marcou, e muito, foi o Filipe
Alberto.
O Filipe era uma pessoa mais fria, dura, que exigia de nós
aquilo que um miúdo como eu, na altura, por vezes achava demais. Treinos na Rua
da Olivença, por exemplo, em que os joelhos esfolados das quedas naquele piso
de alcatrão não serviam de desculpa para parar o treino. Ou os horários que
eram para cumprir ao segundo. A pontualidade é das regras que ainda hoje faço
questão de praticar na minha vida, mas na altura, quando dependia das boleias
da minha mãe, confesso que tive que mentir algumas vezes para cumprir: “mãe,
tenho que estar às 9h no Algés”, quando na verdade era só às 9h30.
Tudo isso ajudou-me a ser responsável com os meus
compromissos, a não me deixar abater por percalços, e a acreditar que ser forte
é o caminho para o sucesso.
Mais tarde tive a oportunidade de trabalhar com a pessoa que
mais marcou o meu crescimento, enquanto homem, o Fernando Jóia. Enquanto homem,
sim, e também enquanto jogador.
O Jóia conseguiu agarrar num grupo de míudos e ajudou-nos a
crescer para nos tornarmos grandes homens nas mais variadas áreas. A visão dele
sempre foi a longo prazo. Ele tinha a capacidade de nos tornar competitivos
dentro de campo, naquele momento, mas olhando sempre para aquilo que
considerava prioritário: o nosso futuro.
Foi ainda com o Jóia como treinador que vivi um dos melhores
momentos da minha vida, a conquista do Campeonato Nacional de Juníores B, que
na altura correspondia ao atual escalão de sub-18.
Nunca terei palavras para lhe agradecer o suficiente por tudo
o que ele fez por mim, pelos anos dedicados à minha formação pessoal e
desportiva.
De facto o meu percurso no Algés, ficou marcado pelas
pessoas.
Mas pessoas fantásticas não se ficaram pelos treinadores e,
por isso, volto ao primeiro parágrafo para agora falar dos momentos partilhados
em família no Sport Algés e Dafundo.
O ambiente que se vive no Algés é único. Há uma proximidade
muito grande entre pais e filhos, treinadores com os seus atletas e os seus
pais, entre os atletas de diferentes escalões, masculinos e femininos, e até
entre atletas de diferentes modalidades (não me digam que não é um privilégio
treinar ao lado do Nuno Delgado, por exemplo, todos os dias).
Os meus colegas que foram subindo de escalão comigo ao longo
dos anos são sem dúvida meus irmãos para a vida. Os momentos vividos ao lado
deles iam além do basket. Havia cinema, praia, noites, festas de anos, tudo em
família, a família do Algés.
E tal como os jogadores da minha geração, também os jogadores
da equipa sénior que a certa altura receberam de braços abertos um miúdo que
sobre o jogo dos adultos nada sabia, foram minha família. A transição para
sénior foi um processo fácil por isso mesmo: família. Os mais velhos
receberam-me como um irmão mais novo, sempre dispostos a ajudar, sempre prontos a ralhar, mas sempre, sempre, ao meu
lado.
Como irmãos mais velhos, tal como tinha acontecido com todos
os meus treinadores, passaram-me sempre os valores certos, o que me faz
regressar novamente ao primeiro parágrafo.
Falar de valores é certamente falar daquilo que mais
importante o Algés me deu.
Respeito, determinação, orgulho, amor, amizade,
companheirismo, dedicação, compromisso, atitude… a lista de valores que me
foram incutidos no clube é interminável e considero-me melhor pessoa por ter
conseguido assimilar estes ensinamentos e aplicálos na minha vida pessoal,
profissional e desportiva.
E aí parece-me estar a grande virtude deste clube. É um clube
de formação pessoal e desportiva, de transmissão de valores essenciais para a
vida de cada um dos jovens atletas que tem o privilégio de representar o Algés.
Como qualquer clube, o Algés também tem as suas limitações.
Há pouco espaço para todas as equipas terem as horas de treino ideais. Há a
dependência dos transportes dos pais que semana após semana têm que levar os
seus filhos e os colegas para os jogos.
Não há bolas novas a toda a hora. Os equipamentos não são
renovados todos os anos. Por vezes quando chove muito cai alguma água dentro do
pavilhão… Eu escrevi limitações? Enganei-me!
No Algés não lamentamos aquilo que não temos, mas damos valor
ao que temos. Se está a chover partilhamos o campo com outra equipa para
treinar. Ou subimos escadas e bancadas para melhorar a condição física. Se os
carros estão cheios a caminho do jogo, alguém se aperta porque há sempre espaço
para mais um. As bolas velhas são tão redondas como as novas, e se por acaso
estiverem vazias e não saltarem, dão para treinar o lançamento. Os equipamentos
passam de geração em geração e é com orgulho que vestimos a camisola que no ano
anterior pertenceu a outro jogador do Algés! Está a chover dentro do pavilhão?
Um pino em cima da poça resolve essa questão.
No Algés formam-se campeões, e os campeões não arranjam
desculpas, mas sim soluções. Unem-se e são mais fortes. Lutam juntos pelos seus
objetivos.
VVV SAD ALGÉS ALGÉS ALGÉS
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