O Sport Algés e Dafundo, vulgarmente conhecido como “Algés” é uma instituição que dispensa apresentações. Clube nacional e internacionalmente conhecido, com um palmarés recheado de títulos nas suas várias modalidades e o 3º clube com mais atletas olímpicos apenas ultrapassado pelos gigantes Benfica e Sporting. Além deste aspeto competitivo, o clube tem um papel fundamental na formação de crianças e jovens e é uma escola de valores incutindo responsabilidade, disciplina, espírito de sacrifício, espírito de equipa entre outros a milhares de jovens.
Para
mim, o clube é como se fosse mais um Pai, um amigo, um irmão. Entrei neste
clube aos 3 anos com 2 cachuchos na cabeça e de mão dada com a minha mãe e aos
38 anos ainda ali ando num novo projeto, o babybasket, tão delicioso como as
bochechas e os beijinhos dos pequeninos que fazem parte da equipa e que já dão
o grito do clube cheios de energia e entusiasmo.
Nestes
35 anos muitas histórias, muitas viagens, muitas emoções, muitos sorrisos,
algumas lágrimas também e muitos, muitos amigos para a vida. Até foi neste
clube que encontrei o meu marido (como não podia deixar de ser). Neste clube
começaram muitas relações que duraram para a vida e criaram filhos, netos e até
bisnetos que vão voltando para sentir/aprender a tradição e a mística do clube.
Eu
comecei por aprender a ler e escrever no antigo externato do Algés, depois
andei uns tempos pela Natação, onde ficava sempre em 2º lugar atrás da minha
amiga Petra Chaves, seguiu-se uma passagem muito fugaz pela Ginástica Rítmica
(terão sido dois treinos?), ainda no palco do antigo cinema Stadium.
Ora
aos 7 anos fui ver um Torneio da Mafalda (minha irmã) na rua da Olivença. A
treinadora, Paula Shirley, pediu-me para tomar conta de umas caixas de Sugus
que iriam ser oferecidas aos jogadores no final do torneio. Tarefa cumprida e
ainda ganhei duas caixas de Sugus! Uau, isto do basquete estava a parecer giro…
Estavam todos divertidos a jogar e ainda ganhavam Sugus? Foi o início de uma
grande e maravilhosa viagem. Mas nunca mais me ofereceram Sugus…
Continuei
na natação mas o barulho das bolas que batiam no pavilhão ressoava no meu
coração e tinha o condão de me hipnotizar. E assim foi, vinte anos a jogar
basquete naquele clube. Horas e horas a treinar naquele pavilhão não só com a
equipa mas algumas vezes sozinha ao final da manhã, a imaginar jogadas e fazer
cestos de último segundo contra ninguém.
Se
tivesse de fazer uma caderneta de “cromos” da minha geração havia sem dúvida
algumas pessoas que não poderiam ficar de fora. Mais que os campeonatos, taças,
vitórias e derrotas ficam as amizades formadas, as referências e os exemplos.
Logo
nas primeiras páginas da minha caderneta teriam que constar figuras enormes que
tiveram um impacto, não só em mim mas em várias gerações de jogadores,
treinadores e dirigentes: Carlos Teigas, Jorge Adelino, Fernando Jóia e Eliseu
Beja. Pessoas sérias, competentes, excelentes profissionais e com paixão
gigante pelo ensino do basquete e pelo Algés. A estes quatro Senhores muito
obrigada por tudo o que fizeram (e ainda fazem) pelo Algés e pelo
Basquetebol.
Seguidamente
uma página com os meus ídolos e figuras de referência como jogadoras. Quando eu
era mini e iniciada as seniores do clube tinham muita qualidade e eu seguia com
muita atenção o que as “crescidas” faziam. De salientar a Teresa Barata, Helena
Aires e Paula Alexandra que eu ficava a admirar enquanto jogavam e esperava
ansiosamente pelo momento do próximo treino ou jogo para poder tentar
imitá-las. Ainda tive oportunidade de jogar e aprender com a excelente Paula
Alexandra. Depois claro que tive, e ainda tenho, como referência aquela que
partilhou os pais, o quarto e mais tarde o campo comigo, a minha irmã, amiga,
colega de equipa e treinadora Mafalda Fogaça que me influenciou desde os primeiros
passos e que tanto me ensinou, me deu na cabeça e me apoiou nos momentos bons e
menos bons. Muitos 1x1 no quarto e muitos reposteiros partidos.
Depois
teria umas quantas páginas para todos os treinadores que tive no Algés: Abílio
Lopes, Rui Lopes, Heitor, Favinha, Paulo Ferreira, Vanessa Costa (mini), Sofia
Leitão, Paula Shirley (iniciadas), Mónica Maçarico e Paulo Nuno Vieira
(Cadetes), Nuno Galvão, Abílio Lopes e Paulo Nuno Vieira (júnior), Paulo Nuno,
Abílio Lopes, Carlos Barroca, Fernando Brás e José Araújo (Sénior). O Sr. Mário
Tenório que me conhece desde que nasci também teria obviamente direito a um
cromo por toda a sua dedicação a este clube. E um cromo para relembrar o Sr.
Mourato que fazia, com régua e esferográficas de várias cores num papel A4, a
listagem dos jogos do fim-de-semana e afixava na entrada do clube. O marcador
de pontos também era manual e lembro-me perfeitamente de estar em tantos e
tantos jogos a colocar os números correspondentes à pontuação das equipas com o
maior orgulho e espírito de missão. Um lugar especial para a D. Estrela que se
fartava de trabalhar na secção e que estava em todos os jogos a apoiar-nos e
para o sr. Aires, o motorista do autocarro do clube, que nos levava para as
nossas viagens inesquecíveis pelo país.
Uma
página especial para todos os jogadores seria a página dos pais e das mães. No
nosso clube os pais tinham um papel fundamental no aspeto logístico (boleias,
equipamentos, rifas, etc). Para cada um de nós, um papel extra especial no
aspeto emocional. Só as mães e os pais, com todo o amor incondicional que só
agora percebo, conseguem, já cansados de um dia ou de uma semana de trabalho,
ter paciência para o “nosso basquete”. Lembro-me da minha mãe acordar ao
domingo às 8 da manha para dar boleia para o jogo; de aquecer a comida mais que
fria porque quisemos ficar a treinar com a equipa seguinte; de, após um dia
inteiro a dar aulas de Educação Física ainda ouvir a bola bater do Algés até
casa porque era preciso treinar o drible com a esquerda; de correr o país para
nos ver jogar; de nos felicitar nas vitórias e nas pequenas conquistas e de nos
apoiar nas derrotas e nas frustrações e de ter paciência para as nossas birras
após as derrotas. Alguns pais da nossa geração eram, tal como alguns jogadores,
imagem de marca do clube e passavam lá a vida. Não querendo falhar nenhum (e
lembro-me de muitos) e, já que é a minha caderneta, a minha mãe teria direito a
um cromo de página inteira. O meu pai, embora sem passar diariamente no clube
como a minha mãe, também sempre me apoiou e acompanhou os jogos e os
resultados.
Há outras pessoas que fazem/fizeram parte da
vida do Algés do meu tempo e também teriam que pertencer a esta caderneta: O
Sr. Telo, o Sr. António e há mais tempo atrás (quem se lembra) do “Coça”,
sempre com a camisola “Guloso”, que praguejava palavras que aqui não vou citar
e corria atrás de mim e da Ailine com a vassoura na mão para nos impedir de ir
lançar nos intervalos dos jogos (a nossa parte preferida do jogo, claro). E cá
em baixo no bar, o sr. Gonçalves, o famoso Obélix que nos alimentava após os nossos
treinos cansativos… e em todas as outras alturas. Pois nós passávamos o dia no
clube a ver todos os jogos de todos os escalões. O Algés deve ter sido o melhor
babysitter de sempre. Os pais não tinham que se preocupar pois sabiam onde
estávamos e que de lá não saíamos. Não eram necessários telemóveis. A cabine,
que existia na entrada e dava para dizer 4 ou 5 palavras sem moeda, servia
perfeitamente para dizer: “mãe, vou mais tarde!”
Nós
conhecíamos cada cantinho daquele sítio. Perfeito para apanhadas, escondidas e
outras brincadeiras infindáveis. O clube é um labirinto espetacular cheio de
túneis, passagens e escadas. As famosas escadas do Algés, perfeitas para
qualquer treinador que goste de ver os jogadores sofrerem. Mas sem dúvida que
nos davam uma boa condição física para um estilo de jogo agressivo e com defesa
campo todo que eram características das equipas dessa altura. As escadas e a
saudosa Olivença. Quem não tem marcas nos joelhos da Rua da Olivença? Esse
maravilhoso lugar onde o nosso querido Abílio Lopes gostava de dar treinos
(pois podia gritar mais) e onde nos fazia correr 8 séries de 8 voltas no final
de um treino já bastante puxado.
Há
quem se queixe do calor do pavilhão no verão, das escadas, dos balneários mas
para nós é e sempre será o pavilhão perfeito. Um sítio especial e mágico cheio
de mística e tradição com as bandeiras no teto qual TD Garden em Boston (abaixo
assinado para o regresso das bandeiras por favor!).
Em
relação aos jogadores iria demorar bastante tempo a completar a caderneta pois
foram centenas de colegas de equipa e de amigas e amigos. No entanto não posso
deixar de referir 4 que me acompanharam desde pequenina e que estarão sempre no
meu coração: Ailine Tolentino; Sofia Videira, Ana Barradas e Ana Maria Pires.
Tantos e tantos momentos passados juntas e tantas histórias por contar. E os
nossos maridos e filhos dizem e dirão: “Estão sempre a contar essa história.”
Pois estamos sim e continuaremos a contar pois fazem parte da história do clube
e da nossa vida. E esperamos que um dia os nossos filhos e netos tenham
oportunidade de sentir o espírito e a mística que existia naquele clube. Uma
das histórias que contamos sempre foi quando chegámos às seniores e a Paula
Isabel e companhia (brigada Praxe), sempre queridas a receberem os mais novos,
me ataram (com os atacadores das botas) ao carrinho das bolas e deram umas
quantas voltas com ele. Entretanto, o treinador já tinha apitado e eu,
atrapalhada a tirar as dezenas de nós nos cordões, fui a última a chegar e,
como é óbvio, tive que encher. No meio disto tudo olho para a bancada e está a
Ailine com as pernas para o ar atadas aos ferros de cima das bancadas.
Não
podia faltar, na minha caderneta, uma folhinha para a grandiosa claque que nos
acompanhou durante uns anos, “Os Ultra Algés”. Faziam de cada jogo uma
autêntica festa e davam-nos energia quando já nos faltavam as forças.
“UltraAlgés, Alê, Alê… UltraAlgés, Alê,Alê!”
Uma
página para os momentos especiais seria importante e um deles era certamente as
24 horas do Basquete do Algés. Todos os anos esperávamos ansiosamente por esse
dia. Era, para nós, um dos momentos altos do ano. Começávamos no sábado pelas
12 horas e, com a colaboração de todos, não parávamos até as 12 horas de
domingo. As outras modalidades também contribuíam e chegámos a ter jogos
divertidíssimos do judo com a natação, da ginástica rítmica com a natação
sincronizada, etc. Depois íamos todos para a piscina jogar basquete aquático.
Os árbitros jogavam contra treinadores e os pais também davam uma perninha. Os
antigos atletas compareciam sempre para o convívio anual e matavam saudades. No
final da manhã eram os esperados concursos. Era sempre um fim de semana
especial.
Entrei
pela mão da mãe aos 3 anos e devia estar a chorar com medo. Aos 33 anos chorei
de alegria quando finalmente fomos campeãs nacionais da liga no clube do meu
coração. Chorava também porque dentro de mim sabia que era o fim de um ciclo, o
início de outra fase da minha vida. O tempo não para e a vida continua. O Algés
continua no mesmo sítio… a formar pessoas, a ganhar jogos, a perder jogos, a
sofrer, a fazer as pessoas rirem e chorarem. Existe uma frase conhecida que
diz: “como explicar o que é a vida se nunca jogaste basquetebol?”. Eu
acrescento como explicar o que é o “Algés” se nunca vestiste aquela camisola
verde e gritaste bem alto: “VVV SAD Algés Algés Algés!” Obrigada por tudo.
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