(Jogador de várias equipas do Algés - anos 50 e 60)
Foi em 1952 que comecei a praticar Basquetebol, no Sport Algés e Dafundo.
Foi em 1952 que comecei a praticar Basquetebol, no Sport Algés e Dafundo.
Porquê esta modalidade e no
S. A. D.? Porque nasci em Algés, na Av. da República, em 1937, e em 1945 os
meus pais inscreveram-me como sócio do S. A. D., para aprender a nadar com a
professora Margarida Palla, e como o meu irmão Zé, com mais 13 anos do que eu,
jogava Basquetebol no Algés, comecei desde muito novo a ver os jogos.
Na Avenida onde vivia, e
onde nasci, existia uma escola particular, o Colégio do Dr. Charrua, que tinha
um terreno com uma tabela de Basket. Mário Charrua, filho do dono do colégio,
era jogador do nosso Algés e convidou alguns dos miúdos, eu incluído, que
jogavam todos os dias futebol com a trapeira (bola de trapos) na Avenida da
República, para irem lançar umas bolas ao cesto. Eu e outros, poucos, aceitámos
o convite e passados alguns dias Mário Charrua convidou-nos a ir aos treinos no
Algés para tentar constituir uma equipa de infantis, 13 aos 15 anos, sendo ele
o treinador. Já nesta altura os jogadores seniores eram os treinadores dos
juniores e das 3 equipas seniores, pois não havia equipas de escalões mais
jovens, existindo apenas campeonatos regionais de Juniores e Seniores (neste
escalão havia as 1ª, 2ª e 3ª categorias).
Graças a um entusiasta do Ateneu, Aurélio Cruz,
que organizou um torneio de infantis nas instalações deste Clube de Lisboa, iniciaram-se
os campeonatos de Infantis da modalidade e a minha 1ª fase no Basquetebol do
Sport Algés e Dafundo. Em 1952 começaram os nossos treinos, no campo de ténis,
piso pó de tijolo (atual campo de treinos a que foi atribuído, e muito bem, o
nome do Professor Carlos Teigas), na Av. dos Combatentes. Apareceram poucos,
alguns desistiram, mas ficaram os suficientes para se poder competir no torneio
do Ateneu e depois continuar nos regionais.
Não
consigo lembrar-me de todos os resistentes, mas 5 é impossível esquecer, António
Costa Mota, Américo Jorge Martins (o Peneiras), Fernando Brites, Carlos Alberto
Gonçalves e eu, Fernando Bicho, pois fomos companheiros e amigos inseparáveis
nas equipas de infantis, juniores e seniores, desde 1952 até 1962. Também
lembro com saudade o Hermenegildo Estanislau e o Manuel Gabado.
Com
o fim da carreira de jogadores como Máximo Couto, Afonso Gonçalves, Mário de
Almeida, Vasco Carrelhas, João Brito, Carlos Correia, Mário Charrua e outros,
que lamento não me recordar do nome, mas que igualmente tinha visto nos treinos
e em alguns jogos durante a minha infância, nós, os 5 infantis de 1952, com
Eurico Perdigão, Luís Lorena e João Manuel Leal formamos a nova equipa sénior, com
os que continuaram a jogar, Agostinho Pessoa Duarte (Zé Nito), Sampaio de
Andrade (Necas), Zé Gonçalves, Mário Afonso, Carlos Neves, Vasco Dias Pereira, Jaime
Chéu, Zé Luis Ferreira, Fernando Ramos e Eurico Surgey, sendo Máximo Couto o
treinador.
Naturalmente
houve quem deixasse de jogar e assim novos companheiros apareceram a partir de
1960, por exemplo António Praça, Carlos Cabrinha, Victor Gabado e cinco jovens
estudantes - Bedros e Ara, egipcios, Hratch, arménio, Krikor, sírio, e Arsène,
libanês (estou convicto que estas nacionalidades são corretas) - do, na altura,
INEF (atual Faculdade de Motricidade Humana), com Bolsas de Estudo da Fundação
Gulbenkian. Estes jovens integraram-se muito facilmente no Clube e em Algés.
Nesse
tempo as condições para a prática da modalidade eram más. Campos ao ar livre,
de terra batida e jôrra preta e quando chovia a bola não saltava e ficava
pesada. Depois apareceram os cimentados, muito escorregadios e perigosos, o que
nos levava a jogar com ténis com sola de corda.
O nosso
campo, na rua de Olivença, era de terra, mas depois foi asfaltado com mistura
de gravilha, não menos perigoso. O vento também não ajudava e quando se beneficiava
de lance livre atirava-se terra ao ar para ver o lado do vento e dar o desconto
respetivo. No fim dos treinos, de verão ou inverno, tínhamos um retemperador
duche frio/gelado, bem como nos jogos dos campeonatos regionais de infantis,
juniores e seniores, que eram efetuados nos campos dos clubes de Lisboa, como Carnide,
Liberdade, Oriental, Maria Pia, Queluz, Belenenses, Atlético, Boa Hora, Rio
Seco, Nacional de Natação, Pedrouços, Cruz Quebrada, Tabacos, Casa Pia, Campolide,
Campo de Ourique, entre outros.
Estes
jogos eram normalmente às 21 Horas, com assistência numerosa, ruidosa e muito
bairrista, mas sem qualquer problema. No entanto, como ganhámos vários anos o
Campeonato Regional de Seniores da 1ª Divisão passámos para a Divisão de Honra,
que era disputada pelos 8 melhores clubes de Lisboa, no Pavilhão dos Desportos
(depois Pavilhão Carlos Lopes), no Parque Eduardo VII (Um Luxo!). Estas 8
equipas disputavam o acesso ao Campeonato Nacional da 1ª Divisão, a que tinham
direito os 4 primeiros, descendo de divisão o último. Os jogos eram efetuados
todas as semanas, às 6ªs feiras, em jornadas de 4 jogos, com início às 19 horas
para supostamente o último jogo acabar cerca das 23,30 H, o que era impossível,
pois terminavam sempre entre a meia-noite e a 1 hora da manhã. Como as
deslocações em Lisboa sempre foram por nossa conta e risco e o último comboio
para Algés era cerca das 2 H, (depois só havia às 6 H), o regresso a casa
resolvia-se com a colaboração dos “carolas” e familiares que nos acompanhavam.
Conseguimos
o 4º lugar em duas épocas, e assim disputámos o Campeonato Nacional da 1ª
Divisão, o que foi para nós tão gratificante tal como termos sido campeões
nacionais da 2ª Divisão nas épocas de 1958/59 e 1959/60. Fomos então jogar a Coimbra
(Associação Académica), sábado à noite, nos carros dos “carolas” Chico Bolota,
dirigentes e outros amigos, e ao Porto (F. C. Porto e Vasco da Gama), com jogos
sábado à noite e domingo de manhã cedo, as viagens foram de comboio e
financiadas pelo clube.
Tudo
isto só foi possível graças ao elevado grau de amizade e solidariedade entre
todos (jogadores, treinador, seccionistas e os nossos acompanhantes, amigos e
familiares de jogadores e dirigentes) e também a um grande espírito desportivo,
que nos deu capacidade para, após termos descido 2 anos da Divisão de Honra à
1ª Divisão Regional, termos regressado no ano seguinte. Recordo que num dos
anos de descida jogámos no Pavilhão dos Desportos a última jornada contra o
Sporting Club de Portugal, que foi o campeão, e a nosso pedido, antes do início
do jogo, juntaram-se as 2 equipas no centro do campo, com os treinadores
(Máximo Couto e Prof. Mário de Lemos) e oferecemos uma lanterna vermelha
(símbolo do nosso último lugar), custeada por nós e treinador, ao capitão da
equipa Fernando Vaz.
Treinávamos
3 vezes por semana, ao ar livre, claro, por vezes com mau tempo, mas sempre com
grande alegria, às 3ªs, 4ªs e Domingos de manhã, quando os jogos eram à 6ª
feira, e 3ªs, 4ªs e 5ªs com jogos ao fim de semana. Não treinávamos à 2ª feira
por existir um acordo entre todos, pois nesse dia o cinema Stadium do clube
fazia uma sessão para os sócios a preço reduzido, e nessas sessões estavam
grande parte dos atletas de todas as modalidades do clube e os dirigentes. Anos
50, preço do bilhete 15 tostões (1 escudo e 50 centavos), equivalente, agora, a
quase 1 cêntimo de euro.
O nosso treinador de juniores e seniores até
1962 (10 épocas) foi sempre Máximo Couto, que por volta de 1956 decidiu que
teríamos de utilizar, também, a mão esquerda, tanto no drible como no
lançamento na passada para o cesto. E, logo de seguida, o lançamento em
suspensão e em gancho. Recordo-me bem do pesadelo que foi no início, mas com a
sua e nossa perseverança e teimosia, rapidamente fizemos enormes progressos. Tudo
isto se conseguiu com muito divertimento e alegria.
Não
posso deixar de salientar que Máximo Couto e Mário de Almeida foram
internacionais no Campeonato da Europa de 1952, e que Carlos Alberto Gonçalves
foi um jovem internacional aos 18 anos, e com João Manuel Leal e o Américo
Martins representaram o País nos Jogos da FISEC, em Dublin e em Lisboa, no
final dos anos 50.
Infelizmente,
por atitudes tomadas pelos dirigentes do Clube (Direção e Secção), que 3 de nós
considerámos intoleráveis, e muito nos magoaram, resolvemos sair. Assim na
época de 1962/63 o Carlos Gonçalves foi jogar para o C.D.U.L., eu e o Brites
fomos jogar no Cruz-Quebradense, SIMECQ, onde fomos muito bem recebidos pelos
novos colegas, pelo treinador Carlos Neves (ex-jogador e companheiro de equipa
no Algés) e pelos dirigentes do clube, especialmente pelo meu saudoso amigo
Carlos Alberto Carvalho, a quem informei que regressaria ao clube onde comecei,
e onde tinha os meus amigos de infância logo que houvesse condições para tal.
Carlos Alberto Carvalho, e restantes membros da secção, compreenderam e aceitaram
sem qualquer problema.
Na
época seguinte, 1963/64, regressei ao Algés e iniciou-se assim a minha 2ª, e
última fase. Foram mais 5 épocas até 1968/69, o que foi magnifico porque encontrei
novamente o Costa Mota, o Martins, o Lorena, o Ara e o Arsène, Vasco Carrelhas (filho)
e os jovens juniores Pessoa Duarte (Bétó), Zé Curado, Chico Vasques, Maezzo,
Diniz, Mário Tenório, Bragança, etc. Nesse período tivemos como treinadores Zé
Nito e Afonso Gonçalves.
Dois
ou três anos depois subiram aos seniores Alfredo Almeida, Tiago, Zé Paulo, que
com Bétó, Bragança, Chico Vasques, Curado, Carvalhosa e os 3 sobreviventes da
minha época, eu, Costa Mota e Martins, treinados por Carlos Esteves, formaram a
equipa vice-campeã nacional da 2ª Divisão, na época de 1966/67. Lamento não me
recordar dos nomes de outros jogadores que também participaram na equipa.
Naturalmente
fui treinador nos anos 50, de equipas de infantis e juniores, e na década de
1960 assumi as funções de treinador/jogador nos seniores.
Foi
um privilégio ter iniciado a atividade basquetebolística com quatro
companheiros e grandes amigos de 1952 (Carlos Gonçalves, Brites, Mota e Martins)
e fazer a ligação de 3 décadas, a de 40 (Mário de Almeida, Máximo Couto, Zé
Nito, entre outros), passando pela de 50 (Lorena, Vasco Dias Pereira, Carlos
Neves, João M. Leal, entre outros) até á de 60 (Bétó, Curado, Xico Vasques,
Alfredo, Tiago, Zé Paulo, entre outros).
Passados
71 anos de associado do clube, sem interrupção, e 65 anos após 1952, jamais
esqueci os 15 anos de vivência no Basquetebol do Algés, desde jovem de 15 anos
até homem de 30, onde tive desilusões, mas que nunca anularam as alegrias e as
amizades de que usufruí, e que se mantiveram ao longo destes anos. Também não
esqueço a minha breve passagem na Simecq, Cruz Quebrada, e do ambiente que ali
encontrei.
Naturalmente
que foram os primeiros 10 anos, de 1952 a 1962, os de maior significado para
mim, por isso quatro dos cinco meninos de 1952, Mota, Brites, Carlos Gonçalves
e Bicho (infelizmente perdemos o Martins, o nosso Peneiras, em 1971 num
desastre de viação) mantêm uma grande amizade, a que não posso deixar de juntar
o Lorena, menos novo do que nós, mas que foi quem mais nos acompanhou.
Relembro
com muita saudade a nossa saudação antes do começo dos jogos, no centro do
campo: V. V. V., S.A.D., Algés, Algés, Algés.
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