terça-feira, 3 de outubro de 2017

Aparecimento do Basquetebol no Algés

 
Para escrever a HISTÓRIA DO BASQUETEBOL NO SPORT ALGÉS E DAFUNDO tivemos de fazer uma longa viagem que começa no já distante ano de 1932.
À data do aparecimento do basquetebol no clube, o Sport Algés e Dafundo tinha sido fundado havia 17 anos (em 1915, portanto) e o Basquetebol era conhecido em Portugal desde 1913, vivendo, na altura, uma fase muito imberbe da sua implantação em Lisboa e no país.
Para que o aparecimento do basquetebol no Algés tivesse um enquadramento mais realista e pudesse ser interpretado de uma maneira mais fundamentada, pensámos que seria interessante fazer uma breve resenha da vida do SAD naqueles seus anos iniciais e caracterizar os primeiros passos que tinham sido dados na implantação e desenvolvimento do Basquetebol em Portugal.
Com estes textos, que pretendemos curtos, queremos deixar informação suficiente para uma análise mais objetiva dos factores condicionantes e das razões pelas quais o Basquetebol começou a ser praticado no Algés, naquele longínquo ano de 1932.
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O CLUBE

O Sport Algés e Dafundo foi fundado em 19 de Junho de 1915 e teve origem na fusão de dois clubes que praticavam Futebol: o “Algés Football Club” e o “Sporting Club do Dafundo”, este criado em 1913 por Domingos Francisco Veloso de Lima e ao qual estavam ligados, entre outros, Mário de Almeida, os irmãos Cunha, os irmãos Alfredo, Albano Pimenta de Araújo e Rodrigo Bessone Basto. [1]

Terão sido os sócios dos dois clubes vizinhos que, numa reunião realizada em 19 de junho de 1915 decidiram juntar-se e criar uma nova e mais forte associação destinada à prática do Futebol.
Esta solução enquadra-se numa tendência existente naqueles anos em que pequenos clubes da mesma zona/bairro se juntavam (fusão) de modo a conseguir aumentar o seu potencial e criar melhores condições para obter sucesso desportivo no despique com bairros vizinhos
No caso do Sport Algés e Dafundo, a ideia nasce de uma colaboração pontual de cedência de jogadores do Algés Football Club ao Sporting Clube do Dafundo, que, sendo convidado para jogar nos Olivais, por não possuir o número de jogadores necessário, solicita aos vizinhos de Algés o empréstimo de um dos seus elementos. O resultado do jogo é uma vitória, pelo que a situação se repete em oportunidades seguintes.
 
[1] O Mundo Desportivo, numa reportagem de Carlos Pinhão sobre o Sport Algés e Dafundo publicada em agosto de 1951, dá outros nomes a estes dois clubes - Grupo Desportivo do Dafundo e Sporting Clube de Algés, mas a maioria das fontes aponta para a versão que seguimos. 
 
 

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 Contudo, por não lhe parecer uma situação adequada, surge, a dada altura, uma primeira resposta negativa por parte do clube de Algés para a continuação da cedência de jogadores. Ora, é esta recusa e a vontade de manter o nível de resultados anteriores, que faz nascer a ideia de fusão entre os dois clubes, aparecendo o nome de SPORT ALGÉS E DAFUNDO.  

O novo clube nasce no dia 19 de junho de 1915 e adota como cores o verde e o branco.
 

 
Como nenhum dos clubes agora juntos tinha sede, o local de encontro dos membros e sócios começa por ser, tal como diz Fernando Machado (antigo dirigente do Algés e do COP), “na cave do Mesquita”, cuja localização exata desconhecemos. Depois é alugado um espaço no n.º 31 da antiga Vila Matias e em 15 de outubro de 1916 o clube muda-se para a sua segunda sede, situada no antigo largo da estação dos comboios (onde hoje se encontra uma bomba de gasolina), nº7 – 1º andar, para depois chegar definitivamente ao Estádio Náutico.


(edifício da sede, no antigo largo da estação dos comboios)


A ideia da prioridade ao Futebol não prevaleceu por muito tempo.
Numa AG celebrada em 24 de Janeiro de 1916, foi aprovada uma proposta de um dos mais influentes e entusiastas associados deste novo clube, Eugénio Picardo (figura marcante do arranque do Clube), que preconizou a criação de uma coletividade que se dedicasse só aos desportos náuticos.
É interessante referir uma outra decisão tomada nesta AG, que reflete bem a orientação de amadorismo que se pretendia defender: as despesas que os sócios fizessem para representar o clube não poderiam ser pagas pela agremiação, o que revela bem os sinais daquele tempo, que perduraram até bastante tarde.
Iniciou-se deste modo a gloriosa vida de uma associação que, se inicialmente inteiramente vocacionada para a Natação e a prática de desportos náuticos, veio mais tarde a ganhar um ecletismo que transformou e enriqueceu o clube.
Se nessa altura ainda era escasso o número de sócios, o entusiasmo que acompanhava a sua participação era enorme.
As primeiras instalações para a prática da Natação eram precárias, não estando adequadas às actividades que lá se realizavam. Frente a Algés existia uma jangada no Tejo que servia de base para a escola onde os jovens aprendiam a nadar, ensino que era ministrado gratuitamente por associados do Clube, de entre os quais se destacaram António Palla e sua esposa, Margarida Palla.
Havia também um barracão na praia, pomposamente denominado "Posto Náutico», que servia de suporte às atividades no rio e, mais tarde, foi alugada uma barraca no cais de Alcântara para apoio aos nadadores e aos “water-polistas”. Esta última medida resultou do facto de ser na doca de Alcântara que se realizavam a maior parte das provas de natação de velocidade e os renhidos desafios de polo aquático
Estes jogos eram presenciados por numerosos e entusiásticos adeptos que se instalavam em botes estacionados ao redor do retângulo flutuante que delimitava a área do jogo, ou se aglomeravam na muralha e nas rampas junto às águas do rio. Para gáudio geral, às vezes acontecia um espectador mais desprevenido escorregar na rampa do cais e rebolar para um banho inesperado, ou então, noutras ocasiões, suceder o mesmo percalço ao próprio árbitro, quando um jogador mais inconformado tinha a ousadia de o fazer desequilibrar e cair da chata de onde ele dirigia o jogo, fazendo-o mergulhar na água em traje de passeio, com o seu chapéu «palhinhas», mas de apito na boca e de bandeirinha na mão.
O primeiro galardão conquistado pelo novo clube foi a minúscula Taça Maria Emília, conseguida pela equipa de 2ª categoria de polo aquático do Algés em 24 de Setembro de 1916, num torneio realizado na Cruz- Quebrada, ao qual não se apresentaram os melhores jogadores do Algés face à menor categoria dos adversários.
Em 5 de Maio de 1929 é lançada a primeira pedra para o Estádio Náutico, e em 6 de Maio deste ano iniciam-se as obras, sendo a sua inauguração em 13 de julho de 1930, às 15.30 horas.
A construção do Estádio Náutico (decidida em A.G de 21 de Janeiro de 1929) foi, na verdade, um arrojado empreendimento, levado a efeito por um grupo de sócios, homens de negócios que arriscaram o seu dinheiro sem qualquer objetivo de lucro, apenas por generosa dedicação e amor ao clube, impulsionados pelo contagiante entusiasmo de um dos seus grandes obreiros, Florêncio Ricardo Domingues, o "Tio Florêncio” como carinhosamente era tratado pelos atletas do Clube.
A partir de 1930, com a construção da piscina, a supremacia do SPORT ALGÉS E DAFUNDO na Natação ficou definitivamente consagrada, mantendo essa hegemonia por algumas décadas. Poderá mesmo dizer-se que, durante estes anos, a história da natação portuguesa coincide praticamente com a própria história do SPORT ALGÉS E DAFUNDO.
Progressivamente, assumindo a função social que cabia a este clube e o grande papel de apoio à juventude da zona, as outras modalidades começaram a ganhar o seu espaço na vida do clube (Remo, Voleibol, Tiro, Ténis, Ténis de Mesa, Natação, Polo Aquático, Vela, Ginástica, Judo e o Basquetebol) cada uma delas conquistando o seu espaço próprio, algumas com passagem efémera, outras que se mantiveram até aos dias de hoje.

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O BASQUETEBOL EM PORTUGAL
O aparecimento do Basquetebol em Portugal não foge muito do que aconteceu na maioria dos diferentes países europeus, em que a implantação na Europa da prática deste recente jogo (criado nos Estados Unidos em 1891, por James Naismith) é feita pelos membros da Associação Cristã da Mocidade que, pela sua origem americana e pela intervenção marcante na divulgação das atividades físicas e desportivas, traziam o novo jogo para os locais onde os seus membros viviam, com um aumento significativo da sua popularidade.

O ano referido para a introdução do Basquetebol em Portugal é o de 1913, sendo o seu autor um professor de educação física suíço (Rodolfo Horney), naturalmente membro da Associação Cristã da Mocidade, sem dúvida a entidade que mais contribuiu para o “espalhar da modalidade ainda recente, nos vários países do mundo”. O trabalho deste professor foi continuado por Henry Brandt, que alargou e consolidou a divulgação do novo jogo.
A forma recreativa como começou a ser apresentado fez com que os frequentadores do ginásio daquela associação (Triângulo Vermelho Português) aderissem rápida e entusiasticamente à nova modalidade e, mais do que isso, fossem eles próprios os multiplicadores da nova atividade, levando-a para os seus clubes e contribuindo, assim, para alargar o número dos seus praticantes.
1921 é um ano importante na implantação do basquetebol em Portugal, pois é nesta data que a prática do novo jogo chega a Coimbra (com a ajuda do secretário da Associação Cristã dos Estudantes, William Stallings) e ao Porto, através do secretário da Associação Cristã da Mocidade, Myron Clark.
Este alargar da rede de locais de prática por vários pontos do país permitiu a realização das primeiras competições entre as equipas daquelas associações.
No entanto a primeira competição organizada decorreu entre equipas militares, o que não se deve estranhar dado o papel desempenhado pelas instituições militares na promoção da prática deste jogo e na “fundação de algumas associações regionais”. Segundo Albano Fernandes, “o primeiro campeonato de basquetebol disputou-se em 1921, entre as várias unidades do campo entrincheirado de Lisboa, disputando-se as meias-finais e a final desta prova no dia 4 de Junho de 1921, em Paço de Arcos
As características do jogo e os locais onde o jogo se praticava, deram origem aos primeiros problemas. Inicialmente concebido para ser jogado em ginásio, as circunstâncias existentes em Portugal, nesse tempo, não o permitiam, pelo que os primeiros recintos eram ao ar livre, na maioria dos casos junto a campos de Futebol, em terrenos de terra batida. Só muito mais tarde alguns destes campos foram cimentados, sem que isso trouxesse melhoria nas condições de prática no caso dos dias de chuva. Os melhores campos que existiam eram os asfaltados, situação reconhecida por todos os intervenientes, por serem aqueles onde a ausência da lama e os efeitos da chuva menos se faziam sentir.
Estas condicionantes faziam com que os árbitros tivessem, por vezes, de interromper os jogos por não existirem condições de terreno para a sua continuidade, ou mesmo não permitir a sua realização por causa das condições perigosas dos recintos, o que trazia consequências negativas na regularidades das provas, mas sobretudo levando a um atraso significativo na melhoria técnica dos jogadores.
A utilização de recintos cobertos foi sendo progressiva, mas de uma forma muito lenta, sendo muito poucos os locais com essas condições. Embora o basquetebol tenha sido inventado para ser praticado em ginásios, no nosso país, na zona de Lisboa e nestes anos iniciais, com exceção do barracão do Lisgás (na zona de Alcântara), os recintos usados para o Basquetebol eram todos ao ar livre. Qualquer espaço junto a um campo de futebol (também este de terra batida), ou qualquer terreno abandonado podiam ser adaptados, desde que nele coubesse o retângulo com as medidas regulamentares. Feitas as marcações no chão, colocadas umas divisórias pouco consistentes para separar o público e postas as tabelas, o campo estava pronto a ser utilizado.
Assim, em variados pontos da cidade de Lisboa e nos seus arredores, começaram a surgir pequenas agremiações, que se dedicavam à modalidade, movimentando um grande número de jogadores, algumas delas chegando a alcançar bastante sucesso.



A organização associativa da modalidade vive bastantes peripécias e sobressaltos até chegar a um quadro estabelecido e consolidado. As diferentes associações distritais (quase todas criadas nos anos de 1926 e 1927) não fazem convergir as suas iniciativas e a Federação Portuguesa, depois criada (1927), não consegue aglutinar todos os seus membros, por vezes por causa de questões de somenos, sendo mesmo criada um outro organismo de cúpula (a Liga Portuguesa de Basquetebol), criada pelos clubes de Lisboa.
No primeiro campeonato nacional, organizado pela Federação Portuguesa (a única entidade reconhecida pela FIBA), as equipas de Lisboa não participam, jogando-se apenas encontros entre os clubes de Coimbra e do Porto
Em 1933 chegam a organizar-se dois campeonatos nacionais, cada um sob a responsabilidade da respetiva entidade: o da Federação ganho pelo Sport Clube Conimbricense e o da Liga ganho Campolide Atlético Clube. O número de clubes participantes demonstra a implantação diferente da modalidade no país. O campeonato da FPB foi organizado com 8 clubes (de Coimbra, Porto, Braga e Gouveia) e o da Liga com 35 (Lisboa, Algarve , Évora, Elvas, Santarém, Leiria, Torres Vedras, Tomar, Abrantes, Ourém e Setúbal).
Como se pode ver a organização geográfica não seguia a estrutura administrativa distrital existente.
É neste cenário que no Porto (Estádio do Lima), no ano de 1931, se realiza o primeiro jogo internacional, com a França.
As muitas divergências existentes entre as associações regionais foram sanadas em 1934, começando então a existir um único organismo para dirigir a modalidade a nível nacional – a Federação Portuguesa de Basquetebol.
Pelas suas características, a nova modalidade ganha um lugar de relevo junto dos professores de educação física, sendo vários os organismos escolares que aderem à sua prática. Contudo, apesar de ser uma modalidade aconselhada e integrada no trabalho das escolas, nas actividades federadas de então não se podia jogar com menos de 18 anos.
Um texto publicado no Jornal Os Sports em 16 de Junho de 1933, num artigo sobre o Algés e Dafundo por altura do seu 18 aniversário, a Secção de Basquetebol do Algés, descrevia o Basketball da seguinte maneira:

"Jogo de características acentuadamente atléticas, rápido, movimentado e por consequência, muito interessante de praticar e observar-se, rapidamente granjeou geral simpatia.
Regido em regras conscienciosas e severas, raramente permite a origem de desastres, que, mesmo a verificarem-se, são mais diretamente da, responsabilidade dos jogadores do que propriamente do jogo.
Progredindo notavelmente, o Basketball espalhou-se rapidamente pela província e organizou-se em Associações Regionais que, difundindo as suas regras e promovendo a sua prática, o lançaram de uma forma definida em bases sólidas, que são o penhor do seu futuro."

O basquetebol, enquanto prática desportiva, era, inicialmente (anos 30 e 40), um jogo de adultos, verificando-se que os clubes participavam nas diferentes categorias de seniores (equipa de honra ou primeira categoria, 2ª categoria, 3ª categoria e 4ª categoria), decorrendo competições organizadas para todas elas. Um jogo marcado entre dois clubes era normalmente feito em todas estas categorias, desde que os clubes tivessem jogadores suficientes.
Alguns anos mais tarde, aquilo que encontramos na comunicação social desses anos (jornal Stadium e jornal Os Sports) era, por vezes, no quadro de torneios de aniversário, ou provas internas não oficiais, ser feita referência à realização de jogos de apresentação com equipas de jogadores mais jovens, sempre com carácter pontual, havendo idêntica solução para os primeiros jogos de equipas femininas que, só mais tarde tiveram provas oficiais devidamente organizadas
As consultas feitas levam-nos a tirar duas conclusões sobre a forma como era feita a participação das equipas, que, todavia, não podemos confirmar com segurança documental:
1.   A figura do treinador estava muitas vezes ausente, sendo os jogadores autossuficientes, encontrando-se maioritariamente para jogar. Nos documentos consultados não se encontraram referências expressas à figura do treinador, deixando em aberto (com alguma especulação da nossa parte) a possibilidade de, nos primeiros tempos, os intervenientes participarem essencialmente nos jogos, sem a existência de preparação prévia devidamente orientada.

2.   O número de jogadores em cada equipa era muito pequeno, por vezes de apenas 5 jogadores. Encontrámos vários relatos de jogos em que se afirma que uma lesão, ou questões disciplinares, levavam as equipas a ficar com menos um jogador. Este facto permite entender melhor o número de categorias seniores que existiam.

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O  BASQUETEBOL  FEMININO
EM  PORTUGAL
A primeira apresentação pública de um jogo entre equipas de mulheres foi em Maio de 1934 no estádio das Salésias, em Belém.
Coube a José Dias Pereira, jornalista e com grandes ligações ao Basquetebol e ao Algés (praticante, treinador e dirigente), a tarefa de organizar um jogo para esse festival, opondo o basquetebol feminino de Lisboa (alunas da Escola Machado de Castro) a uma equipa de Madrid.
Foi um grupo de mulheres portuguesas ainda muito desconhecedor do jogo que na tarde de 19 de Maio de 1934, no campo José Manuel Soares, nas Salésias, participou neste jogo de demonstração.
João Xavier Mourato, no seu artigo do boletim “Bola ao Cesto” da Secção de Basquetebol em Janeiro de 1994, refere que “um dos maiores significados deste jogo foi a ajuda que veio dar para a quebra dos tabus que existiam na sociedade portuguesa em relação às mulheres e à sua ligação à prática do desporto”.
O árbitro do jogo foi o já referido José Dias Pereira.
Tal como sucede na iniciação do jogo com crianças, foi acordado com a equipa espanhola que, face às limitações das jogadoras portuguesas, verdadeiras iniciadas no jogo, existiria alguma condescendência na aplicação das regras da modalidade.

Equipa lisboeta:
Defesas: Julieta Santana e Ilda Bonaparte
Centro: Alice Nunes da Silva (capitã)
Extremos: Encarnação Lopes e Maria José Neto.

Como, por certo, reparam, a forma de apresentar a equipa revela, só por si, o modo como os jogadores se distribuíam nas suas funções no jogo, muito diferente do que acontece hoje.
 
Vejamos as críticas publicadas no jornal semanal Os Sports a este jogo:
“O jogo teve 25‘ de duração, dividido em 2 partes de 12,5 ‘. A equipa espanhola jogou a primeira parte a favor do vento e este fator mais a sua valia técnica, traduziu-se num resultado que não revelava o que acontecia em jogo de 4-0 ao intervalo. O grupo português não conseguia organizar uma jogada completa, atuando as jogadoras sem a compreensão nítida da sua posição em campo. No segundo tempo, com a vantagem do vento, as jogadoras portuguesas teve cinco minutos de vantagem que as levou a marcar a sua única bola (por Maria José Neto). No restante falou a melhor preparação das jogadoras espanholas que sem esforço aparente lograram exercer a vantagem, marcando mais duas bolas que fizeram o resultado final”.

Interessante agora a referência às qualidades técnicas das espanholas:
“Melhor preparadas fisicamente as jogadoras visitantes exibiram uma técnica apreciável, com pormenores técnicos dignos de serem adaptados. Um deles, a rotação, é largamente utilizada, com notória vantagem para a condução das jogadas e preparação dos lançamentos”.

Segundo o jornalista/árbitro deste primeiro jogo “o comportamento do público não foi de molde a encorajar as raparigas. As jogadoras usavam um embaraçoso e arcaico saiote branco e uma dela trazia até sapatos com salto." Tudo isto denotava o atraso da nossa prática, porquanto as espanholas apresentaram-se de calções e com “uma liberdade de movimentos que mais destacava a beleza harmónica dos gestos”, como dizia outro comentador
Na sequência deste jogo surgem mais equipas por Lisboa, centradas ainda maioritariamente nas escolas, por se considerar que seria a escola o principal meio de propaganda do Basquetebol feminino. Ao mesmo tempo os clubes que já tinham basquete masculino, eram desafiados a aproveitar essa ocasião para abrirem a possibilidade de prática às equipas femininas.

 
Começou a aparecer a ideia de se realizar um primeiro torneio, apesar da época ir já adiantada. Efetivamente, em julho de 1934 a ABL resolveu organizar um primeiro torneio para os clubes nela filiados. Houve quem achasse inoportuna a decisão dado estarem já no “defeso”, não sendo correto “fazer as senhoras jogar num período em que os homens estavam a descansar. Qualquer esforço violento feito pelas senhoras, ainda inexperientes, poderia matar à nascença uma iniciativa louvável”.
Ao que parece as críticas foram fortes e o torneio não se realizou.
Contudo, segundo o jornal Os Sports, existe uma notícia de um jogo entre Belenenses e Benfica em setembro de 1934, com um dado verdadeiramente espetacular: a assistir a este jogo, realizado ainda no mesmo recinto (Campo José Manuel Soares, nas Salésia) esteve uma assistência de cerca de 3 000 pessoas (três mil pessoas), que se comportaram com muito entusiasmo e disciplina. Resultado final: 6-3
O primeiro campeonato regional da ABL foi organizado no final da época de 34/35, com 6 equipas (Belenenses, Sporting, Benfica, Lisboa Ginásio, Internacional e Marvilense) mas houve duas desistências: o Sporting logo na 1ª jornada e o Internacional na segunda.
Dado curioso assinalado pelo jornalista que acompanhava a prova: "as senhoras equipavam de calções e camisola, enquanto as do Marvilense jogavam de calças compridas, o que lhes dificultava os movimentos."
Segundo a notícia que consultámos "antes dos encontros da primeira jornada houve troca de ramos de flores e saudações à assistência, que compareceu em grande número, apesar dos jogos se realizarem de manhã, tendo-se comportado bem e manifestado bastante interesse, aplaudindo calorosamente as jogadas mais vistosas, as vezes de forma muito barulhenta".

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O BASQUETEBOL NO SAD

(texto construído a partir de vários artigos de João Xavier Mourato, apresentados nas publicações da Secção de Basquetebol do SAD, que agora foram completados com novos dados a que tivemos acesso)

 
Neste resumo limitar-nos-emos a fazer referência aos dados mais salientes do aparecimento do Basquetebol no SAD, deixando para a caracterização de cada época desportiva os elementos mais pormenorizados das atividades que foram sendo desenvolvidas.
O Basquetebol, modalidade ainda considerada nova em Portugal vivia uma fase de “evolução e consolidação”, após anos anteriores (1922-1929) de propaganda, aliciamento e fundação das primeiras associações (entre elas a de Lisboa) e da própria Federação Portuguesa (1927)” (Albano Fernandes).
No início dos anos 30 o SAD tinha conseguido resolver a situação financeira comprometedora que atravessara, e começava a encetar os seus principais esforços e preocupações no sentido de reforçar a vocação desportiva com que tinha sido criado. Nos primeiros anos, apesar das várias iniciativas levadas a cabo no campo das atividades náuticas, centradas no rio Tejo, a participação dos sócios na vida e nas atividades do clube estava longe de ser a expectada (Joaquim Marques, Boletim SAD – 75º aniversário).
Um texto publicado pela Secção de Basquete em 16 junho de 1933 no jornal Os Sports, integrando uma notícia relativa ao aniversário do Clube, que transcrevemos mais à frente, demonstra que o interesse pela modalidade era ambicioso e abrangente. A fazer fé nas palavras dos seus dirigentes de então, o Basquetebol surgiu no SAD pelo seu próprio valor e pelo interesse que suscitava em quem o experimentava, numa lógica de abrir a prática da modalidade aos associados do clube.

 

(Os Sports, 16 Junho de 1933)

Os dados que foram sendo disponibilizados ao longo dos anos não seguem esta linha histórica sobre o aparecimento do jogo no clube, pois afirmam que tal se deveu à necessidade dos nadadores se prepararem durante o inverno.
Porém, as palavras dos dirigentes da Secção de Basquetebol do SAD de então, publicadas no jornal Os Sports, não sustentam essa tese, embora acreditemos que a decisão da Direcção do clube de aceitar a proposta que lhes era feita pelos dirigentes da Secção de Basquetebol, tenha levado em conta esse elemento.
Na verdade, as características da nova modalidade e a possibilidade de treino que se criava para os nadadores durante o inverno, poderá ter sido um factor favorecedor da decisão da Direção do Clube, quando confrontada com o pedido daquele grupo de dirigentes.
Sabendo-se que alguns nadadores já procuravam essa preparação na prática do rugby, considerado uma modalidade violenta, a Direção do Sport Algés e Dafundo teve de escolher uma solução mais adequada, optando pelo Basquetebol e admitindo a sua inclusão nas actividades do clube.
Porém, face ao que os dirigentes da secção afirmam no citado texto, o interesse e a motivação para a implantação do Basquetebol no SAD era mais genuíno e abrangente, defendendo, em primeiro lugar, a própria modalidade. De acordo com a notícia já referida, publicada no Jornal Os Sports de 16 de Junho de 1933, a Secção de Basquetebol do SAD escrevia o seguinte parágrafo:
“Ponderadas todas estas razões e querendo proporcionar ao club uma, nova modalidade, onde os sócios pudessem, no inverno, empregar a sua actividade desportiva e apetrechar-se para alargar o âmbito das suas relações, resolveu um grupo de sócios lançar-se na tarefa de introduzir o Basketball no SAD, conseguindo, primeiramente, a necessária autorização da Direcção”.


Vemos assim, nas palavras de quem lançou a ideia, que se trata de uma perspetiva diferente da que tem sido mais divulgada, revelando existir uma preocupação mais ampla da parte dos seus promotores, de introduzir a modalidade no clube para benefício de todos os seus sócios, tendo a iniciativa sido proposta à Direção, que a aceitou.
Para o aparecimento do Basquetebol no SAD uma grande influência deve ter tido o diretor Guilherme Santos, que, durante muitos anos, foi o grande impulsionador da modalidade no clube, tendo mesmo sido dado mais tarde o seu nome ao campo de basquetebol do Algés na Rua de Olivença.
A nova modalidade exerceu desde logo uma grande atração sobre os intervenientes pelas suas características, pondo de parte a rudeza característica das modalidades de campo já conhecidas e permitindo que a agilidade dos jogadores superasse a força e que a iniciativa pessoal, a velocidade e a movimentação dos jogadores pudessem expressar-se de forma saliente.
Foi assim que se fez a introdução do basquetebol num clube fundamentalmente criado para os desportos aquáticos, que admitiu uma nova modalidade, de acordo com a proposta que lhe foi apresentada.
Desde o início houve a necessidade de arranjar um campo para a prática do jogo.
Até ao aparecimento dum local adequado, os treinos efectuavam-se muitas vezes nos baixos do Estádio Náutico, ainda incompleto, que oferecia um espaço reduzido com algumas condições para a actividade.
Mas era preciso encontrar uma solução mais duradoura e regulamentar. tendo sido fácil encontrar uma primeira solução. Estava ali à mão um terreno alcunhado de “campo de futebol do papo-seco”, situado em local próximo da piscina, perto do espaço do atual mercado de Algés.
 


 (Gazeta de Miraflores, publicado em Dezembro de 2016)

Terraplanagem, arranjo do piso, colocação das tabelas, tudo foi feito pelos jogadores do nosso clube” (Afonso Gonçalves, Boletim dos 50 anos), mostrando assim uma linha que durante muitos anos foi mantida, com os jogadores a colaborarem em muitas das iniciativas levadas a cabo pelo clube.
Promotores desta iniciativa de arranjo do campo: Gilberto Monteiro e Guilherme Santos, dois dirigentes do clube e grandes adeptos do Basquetebol


(Gazeta de Miraflores)


Em 31 de Janeiro de 1932 é oficialmente inaugurado o novo e primeiro campo de basquetebol do Sport Algés e Dafundo, tal como refere a notícia do jornal Os Sports de 5 de Fevereiro de 1932:


(Os Sports de 5 de Fevereiro de 1932)

Segundo os dados recolhidos nos documentos do Algés (entre eles os de João Xavier Mourato), em que se aborda a história do basquetebol no clube, a equipa do SAD que participou nesse jogo foi a seguinte: Manuel dos Santos Rodrigues, Fernando Sacadura, Manuel Pinhanços, Joaquim Marques, Joaquim Mayer e Ruben, sendo os pontos do Algés marcados por Fernando Sacadura (1), Manuel Pinhanços (1) e Joaquim Mayer (14)
O texto da Secção de Basquetebol publicado no jornal Os Sports de 16 de Junho de 1933 faz uma revelação que nunca tínhamos encontrado, ao referir que “os nossos jogadores começaram a ser treinados obsequiosamente pelo senhor Arnaldo Gouveia, a quem o SAD apresenta publicamente os seus melhores agradecimentos”.
Parece assim ter sido encontrado o nome do primeiro treinador de Basquetebol do Sport Algés e Dafundo.

Os locais de prática do Basquetebol no Algés sofreram depois algumas mudanças. Os Bombeiros de Algés chegaram a ceder a sua parada para a implantação do campo durante algum tempo), mais ou menos na área onde hoje se erguem os prédios que deitam para a Rua Luís de Camões, na metade do quarteirão que termina na Rua António Granjo. Tratava-se de um terreno mesmo em frente a um corredor que ligava a Av. dos Combatentes à Rua Luis de Camões, do lado oposto ao corredor que ainda hoje existe na entrada do clube.
Estas mudanças eram fruto do esforço feito pelas várias Direções e Seções de Basquetebol do clube, no sentido da melhoria das condições de treino e de competição oferecidas aos jogadores, até se chegar ao primeiro local de maior estabilidade, situado na Rua de Olivença, inicialmente chamado de “campo da feira”, local este que veio a constituir um marco inesquecível do basquetebol do Algés e cuja história será tratada num outro capítulo.
O prazer pela atividade desportiva constituía a base dos seus princípios morais e a na fidelidade a essas regras, que têm sido uma constante da sua prática e cujo espírito permanece, releva a missão educativa que exerce sobre os jovens praticantes
Não foi fácil a integração do basquetebol como modalidade essencial no S.A.D., por alguns dirigentes e nadadores estarem arreigados à ideia de que o Algés era principalmente um clube de natação e por isso a introdução de uma outra atividade desportiva iria prejudicar a principal modalidade.
Não obstante esta subjacente marginalização (que deu origem uma maior coesão entre os basquetebolistas), época após época o basquetebol foi incrementando a sua atividade e conquistando o seu espaço.
O quadro de jogadores depressa se alargou e, dos nadadores em época baixa depressa se passou para um cada vez maior número de outros associados que queriam jogar basquetebol, todos com o mesmo espírito de dedicação e amor ao clube, havendo a norma de todos terem de ser sócios do clube, dedicando a esta obra um carinho inultrapassável, tudo têm feito para dignificar o Clube.

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APARECIMENTO  DO  BASQUETE FEMININO  NO  ALGÉS
O Basquete feminino seguiu um caminho distinto, ainda que inicialmente, muitas das jogadoras que protagonizaram as primeiras experiências de prática do Basquetebol estivessem também ligadas à Natação
Na sequência do aparecimento dos primeiros jogos de basquetebol com mulheres, o Algés associa-se a esse movimento e em 1938, com o patrocínio do jornal Os Sports, organiza um torneio com jogos em diferentes locais, na qual uma sua equipa participa pela primeira vez fazendo a sua estreia nas competições do basquetebol num confronto com o Recreativo dos Olivais.
O resultado final foi uma derrota do Algés por 11-9
A equipa do Algés era constituída pelas seguintes “senhoras”: Maria Lurdes dos Santos, Julieta Ribeiro, Maria Ester Moura Cabral, Maria Luis Moniz Pereira, Maria José Moniz Pereira, Fernanda Ribeiro

Este entusiasmo inicial sofreu, no entanto, os percalços que sucederam com o basquetebol feminino em geral, seguindo um caminho pouco regular, com paragens e interrupções frequentes, vivendo de momentos de mera sensibilização, que não produziram os efeitos desejados, não ganhando as raízes devidas nem a adesão a uma prática continuada.
Apenas em 1964 podemos dizer que o basquetebol feminino ganha no SAD um lugar mais consolidado e de atividade continuada, com o aparecimento de uma equipa de seniores femininos que passa a participar de forma regular nas competições associativas.
Se as várias presenças e iniciativas realizadas até este ano têm de ser assinaladas como momentos curiosos da história do basquete feminino no Algés, é de todo justo assinalar o ano de 1964 (e o seu grande promotor, Agostinho Pessoa Duarte) como o momento de verdadeira implantação do basquetebol feminino no clube, na altura apenas no único escalão existente - as seniores.

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Encerramos este breve resumo sobre o aparecimento do Basquetebol no Sport Algés e Dafundo, transcrevendo um texto escrito por aqueles que lançaram as sementes de uma prática que veio a ganhar raízes, cresceu e deu frutos de reconhecida qualidade, texto esse que deixa transparecer sinais muito interessantes sobre o que se pensava, então, sobre o futuro da modalidade:

“Expusemos, a traços largos, o que tem sido a vida do Basketball no nosso club e demos uma ideia do que poderá vir a ser, desde o aspeto pedagógico aos aspectos recreativos, desportivos e de propaganda.
Cremos, sinceramente, que dentro de um período relativamente curto, ele marcará um lugar de destaque no nosso meio associativo e regional e continuaremos a lutar persistentemente pela sua vitória.
Só nos resta pedir a todos os nossos consócios que auxiliem esta Secção dentro das suas possibilidades intelectuais e materiais e ajudem a elevar ao nível glorioso do Sport Algés e Dafundo, o belo, útil e interessante desporto que é o Basketball

Algés, 16 de Junho de 1933
A Secção”


Os autores deste texto, escrito em 1933, previram assim o futuro da modalidade no Algés e anteviram o caminho que, com esforço e dedicação, iria ser percorrido.
Todos os que estiveram e estão ligados ao basquetebol do Algés não podem deixar de lhes estar agradecidos.